7 ilhas na Indonésia

O “fast boat” partiu de Singapura à hora prevista, mais vazio que cheio e muito limpo – mal sabíamos nós o que na verdade nos esperava: em abundância de gente e em sujidade.

Foi a Batam que chegámos, dia 13 dezembro. Tínhamos em nós, como sempre, todos os sonhos do mundo. Mas, desta vez, trazíamos também o receio de tudo quanto nos esperava. Da quantidade de quilómetros que íamos fazer. Da quantidade de ferries que íamos apanhar. E do desconhecido. Porque sobre a Indonésia e as suas ilhas, quanto mais pesquisámos, mais confusos ficámos, ainda que uma coisa fosse certa: a de que toda a gente sorri e faz por ajudar.

Assim, à nossa chegada tínhamos uma família à nossa espera. Ela, Sulastri, a mãe e esposa, era a couchsurfer, e mesmo antes de nos conhecer já nos havia ajudado e muito.

Quando ainda em Singapura tentávamos arranjar solução para que conseguíssemos comprar o bilhete de barco para Jacarta, foi a Sulastri quem nos facilitou tudo. O barco partia de um porto; os bilhetes vendiam-se noutro. Nós chegávamos a uma hora, a bilheteira fechava a outra. Enfim, quando tudo parecia ser impossível de conciliar, vimos luz. Luz humana. E não há agradecimento que pague, quando alguém que ainda nem nos conhece, nos vai comprar dois bilhetes – caros, e nos vai buscar ao porto, e nos leva a passear pela cidade, e a jantar fora, e às compras… não há palavras!

A sua casa era pobre. O bairro também.

As pessoas, humildes, olhavam por entre as cortinas das janelas. E só os pequenos mais atrevidos vinham à rua espreitar. Espreitar os turistas. Os brancos.

E nós dois, chegados de Singapura, não sabíamos o que esperar. Ou o que nos esperava.
As condições não eram de facto as melhores. A casa de banho, uma latrina. O autoclismo, um tanque com água e um balde. O chuveiro, o mesmo tanque e o mesmo balde. (Tudo como descobrimos depois ser típico, tradicional e normal na Indonésia). A cozinha, ao ar livre. As paredes, embora brancas, castanhas. As portas empenadas. Os colchões de casal no chão. E sorrisos. Sorrisos no rosto. E humildade.

Tínhamos tanto para aprender.

Na manhã seguinte, depois de também terem trocado turnos de trabalho, levaram-nos ao porto que se seguia. Ainda em Batam.

Esperavam-nos cerca de 30 horas de barco, o PELNI, numa escuridão. Ali, sofríamos por antecipação, sem saber ao certo o que nos esperava. Mas pelas pesquisas, nada de bom seria. Previa-se uma confusão imensa. Um barco desorganizado. Sem condições, sem casas de banho, sem ar condicionado, sem camas, sem coletes salva vida, sem regras. Esperávamos que todos fumassem em todo o lado (como já nos tínhamos apercebido ser), que todos comessem em todo o lado. Que tudo acontecesse em todo o lado.

Mas trazíamos fé: fé numa zona em que nos conseguíssemos deitar, numa zona em que não fumassem, numa zona em que pudéssemos estar.

À chegada ao porto, a confusão era imensa. Atrás do carro, como manda a tradição, correram aqueles que ganham o seu dia a carregar bagagem, na expetativa de poder carregar as nossas malas – o que não aconteceu.

Já depois de feitas as despedidas e todos os agradecimentos que pudemos expressar, entrámos. Entrámos no porto.

Tinha gente, mas não tanta quanto receávamos. E eram até talvez mais as caixas, os caixotes, as galinhas, as malas e as embalagens, que propriamente as pessoas, que se sentavam por todo o lado e se abanavam com o que podiam, enquanto esperavam pelo abrir dos portões. E fumavam, claramente por todo o lado, enquanto se questionavam, provavelmente, sobre o que faziam ali, dois brancos, na entrada para a classe económica, onde vive o caos.

Tínhamos tantas borboletas na barriga, que nem por um segundo conseguimos sentar-nos. E foi o melhor que fizemos, porque no momento em que o portão se abriu, abriu-se também a jaula da selva. Estava instalada a confusão! Tropeçavam uns por cima dos outros, empurravam-se e corriam. Era a tentativa de chegada ao barco. A tentativa de escolha do melhor lugar. E nós não lhes ficámos atrás, sempre sobre a teoria do “faz como vires fazer!”.

Fomos então os primeiros a entrar no autocarro que liga o edifício portuário ao barco e um dos primeiros a de lá sair. E de mochilas às costas, caminhámos rápido até estarmos em mar.

No barco, foi-nos a correr indicada uma cama. E ainda às escuras, aceitámos. Era uma cama! E tinha ali ao lado uma casa de banho. E um sinal bem grande de “proibido fumar”. Pareceu-nos perfeito! E sentámo-nos, observando o que ali à volta acontecia.

As pessoas, os locais, entravam que nem formigas. E os pertences eram mais que muitos, carregados por todos aqueles que assim ganham a vida.

E nós ali, impávidos mas pouco serenos. Em pura observação.

Quando tudo começou a acalmar, e já depois de termos conhecido um alemão, de quem até hoje ficámos amigos e que a nós se decidiu juntar, conseguimos olhar em nosso redor.

Com olhos de ver.

Sempre com as mochilas em mira, fomos ver. Ver o que havia mais, depois daquelas camas onde nos havíamos instalado. E, para nosso espanto, havia mais camas. Mais beliches. Mais colchões. Mais casas de banho. Mais sinais de “proibido fumar”. Mais espaço. E mais fresco!

Agarrámos então nas tralhas e bagagens, e mudámo-nos. E foi o melhor que poderíamos ter feito!

O barco, afinal, não ia nem perto de estar cheio. E afinal não era um ferry, era um cruzeiro. E afinal não estava a cair de velho, tinha sido remodelado. E afinal não estava assim tão sujo, era limpo a cada 12 horas.

Então, por mais que as pessoas fossem descuidadas, sujas ou pouco educadas, eram palco de simpatia, de sorrisos e generosidade. E aquela que tinha tudo para ser um pesadelo de viagem, foi uma bênção. Pena foi só o que chorámos por antecipação, o que sofremos no planeamento e o que imaginámos que podia vir a ser.

Na conclusão, fomos abençoados. Não houve agitação no mar. Havia televisões a transmitir futebol. Havia chuveiros e boas casas de banho. Havia restaurante. Bar. Música ao vivo. Até wi-fi para quem quisesse comprar! Havia camas e colchões para todos. E ainda almoço e jantar (que muito embora não fosse vegetariano, aceitámos, oferecendo o que não comíamos a outras pessoas). E houve também direito a amizades e muita conversa à mistura, com mais um espanhol ciclista que a nós se juntou.

Chegámos então a Jakarta, ilha de Java, dia 15 de dezembro à noite. E não é que estivéssemos cansados, mas estávamos com certeza moídos. E ao mesmo tempo felizes, muito felizes!

Caminhámos até a estação de autocarros urbanos mais próxima, acompanhados por muitos daqueles que tinham também vindo no mesmo barco que nós. E em especial, por uma senhora grávida, que embora envergonhada e a falar por gestos, conseguiu explicar que queria tocar nos nossos narizes (sob a crença de que o bebe terá agora um igual, com cana e comprido).

Por ser Bekasi o nosso destino, no transito caótico de Jakarta, decidimos apanhar o autocarro urbano. E por 20km, levámos mais de duas horas. Verdadeiramente infernal.

À chegada, procurámos quem na rua nos deixasse telefonar e assim conseguimos chegar à couchsurfer que nos iria hospedar. Com uma voz doce, apressou-se a dizer que iria buscar-nos onde estávamos e assim nos encontrámos, por entre a multidão e a confusão que se fazia sentir. Caminhámos depois juntos, por becos e ruelas, e até pela linha de comboio, até que numa pequena avenida entrámos numa pequena van – conhecida como angkot ou microlete, que nos levou até perto de casa. A sua casa, onde carinhosamente havia deixado preparados alguns snaks, muito famosos na Indonésia, feitos de banana, de batata, e frutos secos, e tantas outras coisas! E embora fosse uma casa pobre, onde a casa de banho era ao ar livre e as paredes não eram de todo limpas, percebemos ser uma das melhores casas nas redondezas. Tínhamos até wi-fi, algo raro. E tivemos também um jantar local, de arroz, legumes e tempeh, e um pequeno almoço pela família preparado, com pataniscas vegetarianas e muito tofu, sem claro que pudesse faltar o arroz!

Com lápis de cera, escrevemos a placa seguinte. Estávamos prontos para mais um dia de estrada. Mas, sem que concordássemos previamente ou sem estarmos à espera, já tinha sido chamado um Uber para nos levar até a estrada que saía da cidade e onde nos íamos pôr à boleia. E ainda que pouco satisfeitos com a resolução em si, seguimos. E partimos.

Fugimos assim de Jakarta, do centro da confusão. Do caos em carros. Em pessoas, em lixo. Dos grandes arranha céus em contraste com pobreza extrema, falta de higiene e saneamento.

De Bekasi, fomos para Kendal, perto de Semarang. Até lá, não que tenha sido um dia difícil, mas foi duro. Duro na pele, nos enjoos, no calor, no trânsito, no tempo. Principalmente no tempo. Foram quatro boleias para 400 quilómetros: e 12 horas a andar de carro. Pessoas fantásticas, doces. Pessoas com humor, com liberdade e simpatia. E todas nos deram boleia de sorriso no rosto, até já de noite e com as luzes das estrelas.

Na cidade, ficámos com um novo couchsurfer. Era jovem, afortunado e filho de donos de um grande restaurante. A casa, onde viva, era pobre e suja. Com paredes acastanhadas. E teias de aranha. Mas mais longe, a pouco tempo de carro, tinha uma casa, de família, novinha em folha. Aliás, uma mansão. Onde as paredes brancas reluziam e os azulejos do chão também. Não tinha internet. Nem televisão. Nem tão pouco água quente. Estava a meio na sua construção, havendo por isso divisões a céu aberto. Mas era um paraíso.

Ali montámos a nossa rede mosquiteira, e dormimos que nem príncipes e princesas. Mas por poucas horas, até percebermos que tinha um de nós já sido provavelmente vítima da falta de saneamento, e por isso presentado com muita dor de barriga, mau estar e diarreia. Faz parte, faz sempre parte, nestes países! E muita sorte tivemos de ter sido só então.

Passámos assim a noite acordados, entre a casa de banho e o quarto, apoio moral e carinho. E quando amanheceu conseguimos tudo menos levantar-nos e seguir caminho. Estávamos exaustos.

Passava depois pouco das 16h00 e, por entre o arroz cozido, branco, e a muita água potável que bebemos (porque na Indonésia não há água que não estando engarrafada seja potável ou própria sequer para cozinhar), estávamos prontos. Sim, prontos. Podíamos ter tirado o dia para descansar, ou para nos deixarmos estar. Mas não!

Pusemo-nos à boleia para Jogjakarta, com a esperança de que por serem apenas 150 quilómetros, fosse um trajeto curto! E era, e andar à boleia era fácil, muito fácil! Mas levou quase 7 horas, tendo nós apanhado 2 boleias. O último senhor acabou por desviar-se da estrada principal, o que ainda nos valeu um susto: não que tivéssemos medo dele, mas qualquer desvio na ilha de Java é coisa para levar mais uma mão cheia de horas na estrada. Percebemos então que queria ir visitar a sua família e assim o fez, tendo-nos deixado horas depois mesmo à porta de casa, feliz por nos ter conhecido e de braços abertos para se o desejássemos voltar a encontrar!

Clarificamos em nós que os quilómetros eram imprevisíveis. E que por isso é que na Indonésia se fala em horas e não em quilómetros. Além do muito trânsito, muitas estradas estão em más condições. E para ajudar, os autocarros comportam-se como ambulâncias, buzinando a toda a hora, em excesso de velocidade e ultrapassagens perigosas, tudo para cumprir horários. E os demais, na estrada, cedem-lhes passagem e respeitam a urgência – que por tantas vezes é realmente perigosa!

Em Jogjakarta passámos duas noites. A nossa couchsurfer era trabalhadora numa Guest House recém aberta e amiga do dono, que aceitou lá hospedar-nos. Ficámos muito muito bem instalados: num quarto só para nós, com facilidade para prender a rede mosquiteira e tinha sanita, o auge do moderno (mas não, não tinha chuveiro)!

A cidade, que embora muito turística, era pouco cuidada relativamente ao lixo. Por lá passeámos e tivemos a sorte de conseguir conciliar o horário de vários couchsurfers e assim fizemos um grande encontro, isto porque ao longo da nossa estadia na Indonésia, foram poucas as vezes que enviámos pedidos particulares ou individuais para que nos hospedassem. Colocámos antes nos grupos a nossa história e o que não faltaram foi ofertas de pessoas que teriam prazer em encontrar-nos e alojar-nos. Uma cultura muito hospitaleira e um desejo muito grande de aprender ou treinar o inglês!

Contudo, em Jogjakarta, sofremos com a excessiva exploração de cavalos, a maior parte visivelmente mal tratados. Percebemos mais tarde que acontece o mesmo um pouco por todas as ilhas que visitámos, mas ali foi mais doloroso por percebermos que eram os turistas os grande responsáveis pelo alimentar desta indústria.

De lá, depois de termos acordado muito, muito dedo, seguimos para Malang. Caminhámos para sair da cidade e tivemos ainda de voltar atrás para ir buscar a nossa querida toalha de banho, esquecida no quarto. Apanhámos depois um autocarro urbano e já na estrada certa, pusemo-nos à boleia. A primeira correu bem, foi rápida e com uns senhores amorosos. Estávamos confiantes e só queríamos chegar a casa das amigas ucrânianas que nos esperavam, numa residência de professores estrangeiros universitários.

Mas até chegar a segunda boleia, penámos.

Penámos pelas horas que esperámos. Pelo desespero. Pela chuva. Pelo cansaço.

Esperámos mais de 7 horas, com uma placa erguida a dizer Malang.

Pelo meio, conhecemos a acedemos a tirar fotografias com locais, arranjámos wi-fi no minimercado lá perto, e houve até outros viajantes a oferecer-nos comida. Tudo isto sem que ninguém falasse inglês. Mas boleias, nem vê-las!

Decidimos então trocar de roupa e pôr chinelos. A chuva, que teimava em não parar, era também fonte da nossa desgraça ali, naquele momento. E não havia já chapéu de chuva ou capa que nos vedasse. E trocámos também a placa que dizia Malang, por uma placa a dizer Bali (na esperança que a loucura do destino, a 1000 quilómetros , fizesse alguém parar! Até porque sabíamos que havia camiões e autocarros a fazer o percurso).

Mas foi também ali que nos rimos muito, perdidos, pela graça de um jovem que por nós passou. Abordou-nos de forma simpática e humilde para nos avisar que ali, na estrada onde estávamos, seria muito difícil encontrar um carro para alugar. Não percebemos à primeira, mas ele falava a sério!! Dizia que as companhias de carros para alugar não iriam tão longe, nem por ali. Embora incrédulos, vimos que falava firme e certo do que dizia.

Levou tempo, mas lá lhe explicámos a nossa história e o que fazíamos ali, à boleia.

Já de noite, quando assumimos ser difícil encontrar quem nos levasse, considerámos tudo. Deveríamos caminhar? Ou ficar ali mesmo? Montar a tenda? Comprar jantar? Parar de pedir boleia? Ou continuar? Até quando?

E por entre todas estas indecisões, o rapaz a quem explicámos o que era andar à boleia, enviou uma mensagem. Nela, dizia que se ainda não tivéssemos conseguido encontrar um carro, que poderíamos dormir em sua casa. E logo depois acrescentou que poderíamos tomar banho e que seríamos bem vindos para jantar!

Há pessoas únicas e maravilhosas, não há?

Aceitámos, claro, e revezámo-nos entre os últimos minutos de boleia (por si acaso..) e o arrumar das mochilas, já que depois de mais de 7 horas no mesmo lugar, tínhamos pois o acampamento montado!

E foi num desses segundos que parou um carro! Fez sinal e encostou mais à frente.

Era daquelas pessoas que só de olhar nos olhos lhe sabíamos o bem. Para ajudar, falava inglês. E o mais engraçado era que embora não fosse para Bali, estivesse a ir para Malang!!

Ora, como é que é possível que a mostrar a placa de Malang tantas horas, ninguém tenha parado, e que a mostrar a placa de Bali, tenha parado um sujeito a ir para Malang?

Contado leva tempo, mas foi num segundo que pensámos, aceitámos, explicámos por escrito ao rapaz da casa que tínhamos encontrado boleia, empacotámos tudo e seguimos. Era uma longa jornada, ainda, e íamos fazê-la de noite. Mas estávamos bem entregues. Contudo, gelados.

Parámos pelo caminho, passava já dá meia noite, para jantar. Ofereceu-nos arroz com legumes, água e café e seguimos caminho, sem que pudéssemos imaginar que chegaríamos a casa passava já das 4h00 da manhã. E estávamos perdidos de sono!

O plano em Malang era parar e seguir. Fazer da cidade uma paragem para descanso e continuar até Bali, mas não conseguimos. Ficámos então duas noites, durante as quais conhecemos pessoas extraordinárias, incluindo uma portuguesa! Voltámos depois ainda a encontrar quem nos tinha dado boleia, e ainda a sua família.

E embora estivéssemos receosos pela quantidade de mosquitos existentes na zona, valemo-nos da nossa rede mosquiteira e assim descansámos. Mas o corpo pedia mais. Mas horas de descanso. Ou mais cama. Mais calma. Mais calor. Mais tempo. Ou mais casa.

Mas partimos no dia seguinte, rumo a Bali.

Eram muitos, muitos quilómetros. Mas sabíamos que havia quem o fizesse de seguida, e não era impossível. Aliás, não há impossíveis à boleia. Então tentámos a nossa sorte, ainda que depois tenhamos percebido que tivemos algum azar.

Começou por chover a meio do dia, o que em nada nos ajudou. E o vento, as oscilações entre o sol quente e a tempestade, o quente e o frio, com o cansaço, resultou em dor de garganta. Mais tarde, em dor de cabeça e, por fim, em febre.

Tínhamos já apanhado 3 boleias, mas mais que conseguimos foi chegar ao meio do nada, literalmente. Mas ali mesmo, percebemos que havia um hospital, e foi para lá que caminhámos: a custo.

A febre, o mau estar, as dores no corpo e o peso da mochila dariam conta de qualquer ser humano.

No hospital, com as condições que podem imaginar, tivemos a graça de ser atendidos na urgência por uma médica a quem o inglês não era estranho e depressa nos acalmámos. Talvez o que fizemos não seja o que se deva fazer, mas febre num país tropical, da sempre aso a dúvidas. Malaria, dengue, encefalite e mais mil doenças de nomes estranho, fazem todas parte do reportório da Indonésia e a doutora fez questão de as relembrar uma por uma.

Viu a garganta com a lanterna do telemóvel.

O senhor da receção ajudou a senhora das análises a tirar sangue.

As análises foram feitas ali mesmo, em cima da mesa onde escrevem e também comem.

Vale tudo! Tudo num hospital público, sendo o único num raio de 300 quilómetros!

Ali ficámos, mesmo depois de sabermos que provavelmente não passaria de uma infeção na garganta, uma gripe, e claro o sistema imunitário em baixo. Resolvido com antibiótico (que afinal o hospital não tinha), paracetamol, anti-histamínico e vitaminas, acabámos a jantar o que nos ofereceram, a tomar banho no balneário do hospital e a dormir juntos na cama das urgências, onde a capa da cama ou o lençol tem de ser trazido pela pessoa internada. E no dia seguinte, já quase como novos, pagámos pelo serviço 0,70€ e seguimos.

Já não faltava tudo para Bali e agora sim, tínhamos a certeza no coração de que lá chegaríamos. E assim foi! Apanhámos duas boleias, e um barco. Conhecemos uma família e um jovem local de Bali já do lado de lá. E fruto da amabilidade de ambos, conseguimos chegar!

Na ilha ficámos duas noites, em casa de uma couchsurfer habituada a hospedar sem limites. Trazia em si uma capa protetora e levou algum tempo até lhe conseguirmos chegar. Acabámos contudo por colecionar bons momentos juntos, mas Bali não foi de todo um lugar que nós impressionasse. Ou se o fez, não foi pelos melhores motivos.

As pessoas menos simpáticas, mais interessadas no dinheiro; as praias sujas, cuidadas apenas nas épocas mais turísticas; o mar poluído… tudo somado, deixou muito a desejar.

Apanhámos então duas boleias até ao porto de Bali, rumo a Lombok. Foram duas boleias fáceis e certeiras, de pessoas cujo coração tem um tamanho infinito. Mas perdemo-nos no tempo enquanto esperámos por encontrar um camião que nos levasse no ferry de forma gratuita e acabámos por atravessar mar já fora de horas. Assim, só já de noite conseguimos as duas boleias que nos levaram à aldeia que procurávamos. A última muito difícil, depois de várias horas à espera, de anoitecer e de muitos locais nos terem já abordado.

As boas vindas não foram as melhores.

E mais marcante: era noite de Natal. Sim, 24 de dezembro.

As emoções estavam à flor da pele. À flor do coração.

A tudo o que estávamos a viver, acrescentámos as saudades de casa. A dificuldade em lidar com isso. E por entre lágrimas, aperto e dureza, amargura, ânsia e desespero, principalmente quando percebemos não ter Internet por perto.

A família que nos acolheu, já a dormir à hora que chegámos, era muçulmana (como a grande maioria).

E o filho, pequenino, tinha sido circuncisado por motivos religiosos (para purificação e por permitir no futuro limpar-se mais facilmente, da mesma forma que mulheres menstruadas não podem entrar na mesquita). E assim, com todos focados nas suas vidas, não tivemos nada que nos aproximasse de uma noite natalícia. Restava uma sensação de vazio, na ausência daquela que é também a nossa família. Mas felizes por estarmos bem. E juntos.

Dia 25, logo pela manhã, decidimos mudar de casa. Avançar no caminho e procurar um lugar onde pudéssemos estar em contacto durante o almoço em Portugal! Conseguimos então a primeira boleia com a cunhada da couchsurfer que nos havia hospedado, que acabou por nos levar até casa dos sogros, onde por coincidência estavam a ter uma celebração muçulmana (mas que em nada conectada com o Natal).

Lá, conhecemos um familiar que mas tarde iria na nossa direção e depressa combinámos para que nos levasse até perto de Salong, o nosso próximo destino. Deixou-nos a poucos quilómetros, muito poucos, e de lá depressa apanhámos uma boleia de uma pick-up recheada de jovens, cheia de escuteiros. Até chegarmos, foram pelo caminho histéricos e em euforia. Tirámos fotografias, fizemos vídeos. Valeu tudo! Trocámos contactos, sorrisos e abraços, e na despedida contactaram o nosso couchsurfer para o avisarem de onde nos haviam deixado.

Era um jovem, Afan, o couchsurfer. A princípio, pareceu-nos estranho. Mas foram pensamentos infundados! Em sua casa encontrámos uma doce família e vários dos seus amigos. Jogámos ping-pong. Petiscámos e jantámos e petiscámos de novo até tarde. E por haver Wi-Fi, conseguimos fazer uma ligação com vídeo para a nossa família, que no auge de todo o amor que por eles nutrimos, estavam todos juntos! Alegres, em torno da mesa do almoço de natal, e falamos com pais, irmãos, tios, avós e primos. E a quem não conseguimos falar no momento, conseguimos deixar um vídeo. Dormimos, assim, felizes e de coração quentinho.

Reconfortados.

Amados.

Na manhã seguinte, sentimos os raios de sol fortes. Sabíamos que era hora de despachar e partir para Sumbawa, mas os pais do Afan fizeram questão de nos levar ao porto onde apanhámos o ferry. Hesitámos a princípio, mas depressa percebermos ser uma alegria! Foi a família toda, num clima de felicidade constante!

Apanhámos então o primeiro ferry que conseguimos, depois deste se atrasar mais de uma hora (nada que seja estranho neste país, confessamos!).

Já na ilha de Sumbawa, sem que tivéssemos tempo para pensar no que quer que fosse, deixámo-nos deslumbrar pela paisagem! Uma ilha quase deserta, linda, majestosa. Indescritível e inesquecível. E talvez por isso nos tenha ficado cravada na mente.

A primeira cidade que procurávamos, tinha decerto mais aspeto de aldeia que de cidade: Sumbawa Besar! Ainda no ferry, conseguimos uma boleia de uma pick-up. Eram uns 10 homens e estavam a chegar para ajudar no terramoto de Bima. Bima é uma cidade mais a leste, para o meio do país, por onde mais tarde passámos. Mas já tínhamos ouvido falar da tragédia que lá se tinha instalado: muitas chuvas, cheias, ventos, muita gente desalojada, muita confusão e miséria naqueles dias, e até uma ponte caída.

Assim, assistimos a ondas de solidariedade vindas não só da própria ilha, como de ilhas vizinhas. Vimos concertos solidários a acontecer, vimos homens e mais homens a chegar só para ajudar. Carrinhas de mantimentos. Comida. Água.

E força. E tantos, tantos sorrisos. Estas pessoas, mais que tudo, traziam alento.

Pelo caminho, sempre animados, foram fazendo uma visita guiada por onde passávamos, enquanto todos juntos dividíamos o espaço que restava na caixa aberta. E já a mais de meio, depois de terem já parado para rezar, encontrámos uma mangueira carregada de mangas. Umas maduras, outras verdes. E em menos de nada, tínhamos 20 mangas no colo: estávamos no paraíso!!!

À chegada a Sumbawa Besar era ainda cedo. Passava pouco desde a hora de almoço e por sabermos que estaria em casa, procurámos o Johny, o couchsurfer que nos iria hospedar.

Caminhámos pela aldeia, por estradas de terra batida e muitas poças de lama. Fomos avistando e cumprimentando as crianças que encontrámos, com o típico e habitual “Hello mister” e percebendo que as condições locais não eram de todo as melhores. Muitos lagos repletos de lixo. Muita lama. Fraldas sujas por todo o lado. Plásticos a boiar, montes de terra misturada com restos alimentares.

O cheiro no ar era intenso e, embora estivéssemos literalmente no coração da natureza, a falta de saneamento e tratamento do lixo fazia igualmente sentir-se.

O Johny era um jovem cordial, sincero e afetuoso. Sabíamos no seu olhar a felicidade que trazia por nos receber. E esperamos nós nunca ter dado transparência ao que estávamos a sentir.

A sua casa não tinha portas. Nem janelas. E ficava no meio daquele panorama que acima descrevemos. Mas, o pior: tanto ele, como os amigos, fumavam em casa. E acendiam uns cigarros nos outros, sem que fosse possível respirar por perto.

Mesmo com a quantidade de mosquitos por perto e com as condições que tínhamos, a decisão de ficar ou partir foi difícil e ainda nos levou mais de uma hora. Não é fácil explicar a realidade das situações e há pouca coisa que justifique não podermos ficar com alguém de bem. Mais, quando percebemos que as pessoas querem muito e de coração receber-nos.

Mas decidimos partir. Ainda que com um nó na garganta, ainda que soubéssemos que nos tínhamos explicado e que não havia mágoas por resolver. Mas a razão falou mais alto.

Ou não . Terá sido o medo?

Estávamos então de volta à estrada, rumo a Dompu, a cidade seguinte onde tínhamos quem nos hospedasse. Placa esticada e não esperámos praticamente nada até que parasse a próxima carrinha, uma vez mais cheia de homens recém chegados para ajudar em Bima.

A boleia foi direta e já mais de metade feita de noite. Parámos apenas e só para um chá e uns biscoitos. E chegámos pouco passava da 00h.

Lá esperava-nos um família. Dois jovens recém casados, com uma casa humilde mas muito limpa (face aos padrões indonésios) e o seu café. Lá, num quarto pequenino mas muito cuidado, tinham preparado a cama para nós e a única coisa que tivemos de fazer foi montar a rede mosquiteira. Não só pelos mosquitos, mas pelas aranhas: nada simpáticas, do tamanho da palma da mão.

Com eles ficámos dois dias, durante os quais visitámos uma famosa praia de surf, a cidade e os seus encantos; e juntos cozinhámos para toda a família, amigos e vizinhança!

Era já dia 28, aproximava-se a passagem de ano e a nossa tao desejada chegada a Timor. Mas tínhamos ainda pela frente um longo caminho!

Começámos por conseguir uma boleia até Bima com amigos dos nossos couchsurfers, que iam para lá ajudar. À chegada, contornámos a cidade e, mesmo assim, eram visíveis os destroços e o caos, mas havia pouco que pudéssemos nós fazer, a não ser conversar com os locais e deixar que tirassem fotografias connosco!

Lá caminhámos muito e acabámos por conseguimos sair da cidade e chegar a Sape com uma família. Foi complicado apanhar boleia, os locais não nos largavam. Alguns queriam realmente ajudar, mas todos os outros não percebiam o que estávamos a fazer e queriam apenas e só estar ali, ao lado, a ver.

Em Sape, andámos perdidos à procura daquele que seria o nosso próximo couchsurfer, o Minh (que já em tempos alojou um casal de amigos nosso – que mundo pequenino!). Ligávamos e não atendia. Procurávamos outra pessoa para lhe ligar, e voltava a não atender. E assim fomos andando, debaixo de uma chuva miúda e dos olhares atentos de quem por ali vivia.

Mais à frente, num posto dos correios, decidimos tentar a nossa sorte e perguntar se tinham wi-fi. As ligações apareciam no telefone, mas codificadas. E embora não houvesse internet, havia fraternidade e preocupação. Havia intenção de ajudar, o que nos conforta sempre.

Conseguimos então voltar a telefonar e desta estabelecer ligação. Percebemos assim que a casa ficava a 12 quilómetros do local em que estávamos e não tínhamos alternativa senão caminhar e tentar encontrar uma nova boleia.

Sem hesitar, foi o próprio senhor dos correios e um colega a oferecer boleia. De mota! E lá fomos, depois do posto fechar, cada um com os olhos postos no outro, rumo à pequena aldeia.

Não só a casa do Minh era enorme, como a sua família também o era. Gigante! Muitos muitos sobrinhos, que mal nos viram chegar, depressa nos rodearam. E a primeira pergunta que o mais destemido fez foi a que muitos pensam mas ninguém pergunta: Vocês têm muito dinheiro, não é?

Com o Minh ficámos apenas uma noite e eram 5h30 da manhã já o despertador tocava. Não sabíamos ainda se ia haver ferry para a ilha das Flores, tendo em conta todos os cancelamentos anteriores dadas as intempéries, mas não podíamos nunca dar-nos ao luxo de o perder.

Comprámos pelo caminho umas bananas a peso de ouro (não fomos nós a negocia-las, e quando se encomenda o serviço não há porque reclamar) e chegámos pouco passava das 6h00 ao porto. Sinal de barco não havia. Bilheteira também não. E corriam, por entre os locais, os zunzuns de que em breve também não haveria.

Passámos o dia no porto. Escolhemos um banco, e de lá pouco ou nada saímos. A esperança foi a última a morrer, mas quando o sol se pôs o cansaço já pesava.

Fizemos vários amigos ali. Todos os turistas que vinham em busca do ferry a nós se juntaram e mais para o fim já éramos uma verdadeira família.

Cada oficial que passava trazia uma notícia diferente: Hoje já não há barcos; Vai sair um ferry dentro de 3 horas; O ferry sai amanhã pela manhã; …e assim alteravam os factos de meia em meia hora, sem que chegássemos alguma vez a saber a verdade.

Acabou por sair eram 23 horas, quando já ninguém acreditava e muitos tinham ido reservar hotel (ou uma espécie de). E estávamos tão felizes! Mesmo quando nos diziam entre dentes que podia não ser seguro viajar de noite, que nem sempre havia coletes salva-vidas para todos ou coisas que tal.

Estávamos serenos. Tranquilos. E mesmo, mesmo felizes. A um passo de Timor, a dois passos de Timor-Leste e do tão esperado descanso em 10 meses de viagem.

Chegámos às Flores, a Labuan Bajo eram 5:30h da manhã. Caminhámos. Mochilas às costas. Pensamentos positivos. Mas boleia, nada.

E foi quando parámos para descansar por entre a nossa subida na ilha, que sentimos o chão tremer. Não estávamos certos, mas quando olhámos em redor, uns segundos depois, voltou a abanar tudo. A sério! O chão fugiu-nos dos pés e o coração da boca. Era um tremor de terra.

E com a presença inigualável de sinais a indicar a rota de fuga em caso de tremor de terra e consequente tsunami, subimos a montanha mais depressa que nunca!

Nada de mais se veio a confirmar, e ainda bem. Mas em choque, continuámos a caminhar e assim seguimos até ao topo. Na verdade, caminhámos muito. E muito carregados. E, lá em cima, rendemo-nos ao descanso e limitámo-nos a pedir boleia.

Vendiam gasolina em garrafas, ali na borda da estrada. E mesmo em frente a uma bomba de gasolina. E essa imagem guardamo-la com estranheza!

Acabámos então ao longo do dia por conseguir todas as boleias de que precisávamos ate Aimere e lá chegámos depois de um dia inteiro na estrada e 3 diferentes boleias, que sem dúvida em comum tinham a sua generosidade. Ofereceram-nos o almoço, um lanche-almoço e muito carinho.

E finalmente chegámos a Aimere, por entre caminhos verdes e únicos, intocados e virgens, de uma beleza indescritível. Não conhecemos o verdadeiro cerne da ilha das Flores, mas trazemos a certeza de que valerá a pena voltar para visitar.

Era de já de noite e restou-nos em primeiro lugar tentar procurar o que comprar para comer no dia seguinte nas tantas horas de barco que nós esperavam para fazer. E posto isto, com alguma limitação face à oferta da pequena cidade, demos início à procura de um poiso para dormir.

A nossa tenda é e será sempre o nosso porto de abrigo, mas por descargo de consciência, deixámos os preconceitos e a vergonha de lado, e decidimos averiguar se o único hostel da zona teria interesse em trabalhar connosco. E com a ajuda de tradução de um Senhor muçulmano e extremamente religioso, com quem acabámos por travar amizade, lá conseguimos chegar a uma parceria que nos permitiu pernoitar sem pagar. E, o mais importante, tomar um banho e descansar.

Era então dia 31: o tão esperado para apanhar o ferry até ao porto de Kupang, na ilha de Timor.

Estávamos muito ansiosos. E nervosos. Não sabíamos bem como tudo iria acontecer. Será que à chegada a Timor conseguiríamos boleias a tempo para chegar a Timor-Leste? Será que o barco tem condições? Ou terá gente a fumar nas zonas fechadas, galinhas e comida tudo à mistura e a festa instalada?

Comprámos o nosso bilhete. Classe económica.

Entrámos já passava da hora anunciada. Chovia lá fora. Abanava (e muito!) lá dentro. Vimos camas, colchões. Sinais com proibição de fumar. Casas de banho. Nem tudo parecia mau. E se não fosse termos sido possivelmente vítimas de corrupção no momento em que nos exigiram dinheiro por estarmos deitados nas camas, podemos dizer que não foi o pior dos cenários.

Mas, embora tenhamos enjoado e passado a 00h do ano novo a dormir, chegámos a Timor Ocidental eram 2h30, 6 horas antes do previsto! E pode parecer o cúmulo dos cúmulos acreditarmos que isto foi o melhor que nos poderia ter acontecido, mas mais tarde irão perceber que realmente o foi.

Era de noite, certo. E a noite, como a qualquer um, intimida. Mas ali não tínhamos espaço, nem tempo, para intimidações. Tínhamos só de nos mexer.

Conseguimos então a primeira boleia do ano novo eram 3h00 da manhã, com um jipe e três jovens que vinham também no barco. Aceitaram ajudar-nos a chegar a Kupang, e de lá saberíamos já ser mais fácil. E foi.

Mas foi assustador. Assustador chegar no ano novo, assustador ver a loucura da passagem de ano. Assustador ver a festa que se faz com motas e barulho.

No nosso cantinho, já num lugar perfeito para apanhar boleia, esperámos pelo amanhecer e assistimos a tudo o que tivemos direito, na certeza de que ali estávamos os dois, abençoados na nossa própria presença, no conforto do nosso abraço.

Estávamos impávidos, mas pouco serenos. Víamos o mundo girar.

E foi com a ajuda de mais quatro diferentes carros, quatro diferentes histórias de vida e quatro diferentes motivações, que conseguimos chegar à fronteira de Timor Ocidental e Timor Leste, na presença de uma das mais lindas zonas de sempre, entre mar e montanhas, onde depressa fomos absorvidos pelos locais e pela sua ânsia de conhecer e tocar estrangeiros.

Ali estávamos, nós, juntos, a pouco mais de 100 quilómetros de Dili. Com o coração nas mãos, num desejo sufocante de tocar aquela terra outrora portuguesa. E a tirar fotografias e a ser fotografados, quase que sem controlo, pelos olhares e câmaras de curiosos e apaixonados por uma pele branca e um nariz saliente.

Intenso, absorvente, energético. Vivo. Ardente. Assim vamos sempre recordar aquele atravessar de país.

E feita a emigração, carimbo no passaporte, estávamos em Timor-Leste!

Que bom que é estar em casa.

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